Era uma terça-feira. Acho que aconteceu pela manhã. Copa de 1998. A cachorra do vizinho deu cria e os filhotes eram lindos. Havia um que era especial: todo "loiro", muito gorducho e tinha um dedo a mais na pata de trás. Entre um "mãe,deixa..." e outro, ficamos com ele. Roliço. Vai se chamar Roliço.
Minha irmã foi a encarregada de ser a dona dele. Que coisa estranha essa de ser dono de um animal!
Roliço sempre foi um cão sério e comedido. Só latia quando necessário. Sempre muito esperto, sabia que sair pelo portão aproveitando-se de um descuido, levava sempre ao rio. E ele adorava o rio. Teve alguns encontros não muito felizes com ouriços e uns 9 bernes ao todo. Uma vez saiu de casa e voltou só dois dias depois, sedento, todo machucado e sujo. Minha mãe disse que ele tinha uma amante. E tinha mesmo. Ela apareceu em casa e ficou rondando o portão. Minha mãe prendeu o Roliço. Não adiantou. Apaixonado, ele pulou a tela e foi-se embora com a pequena.
Mas Roliço sempre voltava. Sempre para alegria do Zidane (meu cachorro) que, mesmo apanhando ao tentar almoçar a comida do loiro, tinha um companheiro de escapulidas.
A minha vó gostava de dizer que Roliço era feio de doer. Eu nunca achei. Ele era até simpático, de médio porte na fase adulta e elegante em seu jeito atlético.
Eu não brincava muito com ele por medo de ser mordida como o Zidane. Mas era bom ouvir minha mãe gritando "Roliço!!Sai da porta!!".
Meu pai, assim que chegava em casa, ia direto ao armário de onde tirava um saco de pães e deleitava-se atirando um pra cada cão.
Ainda lembro do meu irmão rolando com ele no gramado, primeiro de propósito, e depois porque Roliço ficava tão feliz que não deixava mais ele levantar.
Era todo engraçadinho...Bastava falar com ele em tom amigável que já deitava de costas e estirava as quatro patas, pedindo um carinho na barriga.
É. Hoje minha mãe ligou pra contar que ele morreu. Um carro bateu na cabeça dele. Já foi sepultado. Estão todos tristes. Dez anos é muita coisa. Espero que ele tenha sido feliz. Acho que foi.
Um comentário:
me faz chorar...
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