terça-feira, 26 de agosto de 2014

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Tudo são rumos: decidimos e seguimos. Não há qualquer garantia de que os dias serão bons ou de que as coisas farão sentido a longo prazo. Na maioria das vezes, o sentido não pertence à escolha do rumo, por mais que tenhamos sempre almejado entender o que nos acontece. O sentido seria, numa análise superficial, a busca por uma justificativa capaz de conferir valor ao mais corriqueiro dos eventos diários. Ou às grandes perturbações. Vagar, perder-se, perder. Nenhuma outra experiência pode proporcionar, de forma tão vívida, a real compreensão do significado de liberdade e arrependimento, como a escolha de um caminho a ser trilhado. Se cada escolha implica necessariamente numa renúncia de mesma intensidade e direção diversa, condena-se aquele que escolhe, a viver eternamente a vida que é e a que poderia ter sido. E o castigo é tamanho, que o pobre acaba por passar os dias flutuando no universo do que só existiu dentro dele.

 E não há solidão maior do que a obrigação de assistir sozinho a todas as suas vidas. Especialmente as que existiram.

domingo, 30 de junho de 2013

"Ohh, she does..."

Comprou um pote de geléia de morango e sentou-se confortavelmente em uma espreguiçadeira, ao sol do fim da tarde. Enquanto saboreava colheradas da geléia, tecia pensamentos sobre o uso de mão de obra infantil, a reforma política e o amor. No fim, eram todas questões de medo e coragem. Menos a geléia de morango, que era só questão de humor e fundo musical adequado.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Verdades

E o coração? Que ele ficasse. Isso. Pra quê? Pensava no mundo, ao som daquela pergunta. Pra quê? E o eco do passado conjugado ao sempre presente hoje massacravam-na como espinhos nos olhos. Ver. Ver os olhos dele. Que ele ficasse para que pudesse olhá-lo todos os dias. Ou para que o não olhasse, sabendo que teria então escolha. Não ter escolha. Ter escolhas. Não saberia dizer se a dor maior era a falta ou a presença. Que ele ficasse, que ele partisse. Que se fragmentasse num infinito de pedacinhos...Feito pó. Sabê-lo de outrem. Sabê-lo incerto. Sabê-lo de cor. Saboreá-lo nos mais singelos gestos. Incessantemente pertencer-lhe. Como se não houvesse mais nenhum compartimento separando o indissociável. Ser o que não é para ser nele. Ser dele e de mais ninguém. Mas de outro. Não alterar a ordem, mas alterar o estado. Buscar, entre soluços, a saída. Ou entrar e nunca sair. Recriminar-se. Insistir sem compreendê-lo. Compreender o abismo à beira da viela. O perigo do inexorável tempo. Valer-se de tons das mais variadas cores. Montar o cavalo gringo. Insistentemente provar a ausência de provas. Provocá-lo até a violência. Violentá-lo. Violentá-lo em sentimentos. Violentá-lo de tanta verdade e coração.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

"Só se odeia o que se ama." E a última chance de ser bom se foi. Tudo é escuro. E agora,José? Quando chorar quase adianta, partir é a única solução. "Por Deus, nunca me vi tão só!"

sábado, 3 de março de 2012

Envelheces tu.

"Envelheces tu", diz o muro ao lado do cruzamento. Mas é também como se dissesse "Muda, deixa secar a tinta, abrirem-lhe trincas, crescerem-lhe matos, descascarem-lhe as esquinas...Muda porque a não mudança é que é a morte." E os desacreditares todos tomam forma e corpo, adquirem tônus e comportam-se como elfos. No fim, a perda da inocência torna-nos anciões. E a pouca verdade que existe torna-nos imortais.

domingo, 16 de outubro de 2011

Maracujá

Noite fria e chuvosa. Calçou os chinelos e percorreu a calçada que a separava do interior da casa. Abriu a geladeira e serviu-se de um copo de suco de maracujá gelado e bem azedo. Caminhou de volta ao quarto, pensando na infinidade de afazeres que tinha vida à frente.

sábado, 13 de agosto de 2011

Encanto

O cintilar dos olhos dela, ao atravessar a rua, cabelos esvoaçantes. Num segundo, soube que era ela, e somente ela, quem não tinha medo.
Teria lhe dado tudo. Teria o feito transpirar, respirar pesadamente, emocionar-se, morrer de encantamento. Teria o tido para si e abusado de cada nota. Com ares de divindade, teria o enfeitiçado, usado, enganado, violentado. Teria o feito sangrar e suspirar noite adentro buscando a saída. Teria o feito fechar os olhos, inebriado por seu perfume. Teria o acordado no meio da noite com um beijo. Teria o deixado caminhar de olhos cerrados à beira do despenhadeiro, seguro.

Teria.

Teria mostrado-lhe todas as faces da verdade e do engodo.Os percalços dos que vêm e vão, dos que acreditam e dos que padecem.

Mas veio o outono, e ela se foi.

sábado, 4 de junho de 2011

Ménage

Não me venha com puritanismo e falta de imaginação.
http://youtu.be/hcgtTrMBMEU

Since you took your love away

Sou, sempre fui, interiorana. Não gosto das grandes agitações, das comemorações vazias, da diversidade insistente do anonimato.

Sou feliz de uma maneira muito simples: um trabalho que resulte em boas ações, gente honesta e disposta, trufas gostosas, tempo frio, ar limpo.

Mas tem algo faltando. Já olhei entre os isqueiros e as bics, mas não vi nada.

Continuo.