segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Só piorando

Acho que minha aparente desilusão com a vida acadêmica vem do meu julgamento acerca das coisas importantes. Compreendo os motivos que norteiam meu trabalho e que norteiam os que me rodeiam. Mas não consigo admitir uma favela, com pessoas vivendo em barracos de papelão e passando frio, logo ao lado da USP. Não consigo admitir um rio de imundície cortando a cidade-coração do país. Não consigo admitir caminhar pela Paulista procurando um cinema e ver crianças vendendo balas, portando sonhos mortos e destituídas do olhar aterrador dos que compreendem sua condição.


E tudo decorre daí. Muito valiosas são nossas pesquisas, mas se apenas continuarmos por fazê-las, o que será dos que têm menos? Recuso-me a adiar atitudes. Recuso-me a culpar a corrupção por tudo e não fazer nada. Não compreendo o permanecer nesta bolha tendo a consciência de que a vida de terceiros se esvai num mar de solidão e descaso.


E então vem minha intolerância à gente cuja maior preocupação é ler o artigo que fulano escreveu sobre a posição filogenética de tal espécie. Entendo que minha intolerância não vem do fato de quererem saber das novidades científicas, mas do caráter de exclusividade dele.


Como já disse aqui, tenho sérios problemas com a desumanidade. E eles só pioram.

"Se podes olhar,vê. Se podes ver, repara."

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