Paulo tinha a fama de ser mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que
vira no campo dois dragões-da-independê ncia cuspindo fogo e lendo
fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que
caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos,
feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo
não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante
quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra
passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador
para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico.
Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.
(Carlos Drummond de Andrade)
Um bocado de palavras para o mundo que insiste em não ver. Avassaladoras pretensões. Um tanto de hipocrisia. Bolhas de sabão. Sorrisinhos. Ironias. Amores. Tudo com açúcar colorido.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Lu

O nosso irmão sempre foi diferente de nós duas. Aos oito anos, ele era capaz de ir ao mercadinho do bairro comprar coisas pra nossa mãe e, com o troco, trazer um salgadinho e um chocolatepra gente, sem comprar nada pra ele.
Nosso irmão sempre teve um quê de cavalheiro e benfeitor. As meninas o amam, os meninos acham-no demais! Minhas tias desfazem-se em elogios. Há sempre uma nova cartinha de amor escondida por aí. O meu irmão é um sucesso de público. Ele alimenta as galinhas da minha mãe antes de sair pro futebol. Também corta a grama, apara os pinheiros, anota meus recados. E,claro, é inteligentíssimo e assustadoramente bonito (qualquer semelhança prova só que a Loirinha é adotada! Haha! Te amo, Loirinha!)! Ah! Não é só corugisse. ..Meu irmão não é daqui...
- Não acredito, Lucas! Você comeu todo o doce sozinho?!
-Desculpa...Toma! Pra você!
-Um DVD do Radiohead! Eu te amo!!
Giz de cera

Casa. Um sofá vermelho. Chá de hortelã no bule. Roupas molhadas balançando ao vento. Grama, muita grama. Dois cachorros. Duas da tarde. Giz de cera na mesa da cozinha. Fios dourados, olhos grandes. Um vizinho que vai ao longe na estrada poeirenta. Vestido florido de tecido leve. Vento. Pães de queijo no forno. Duas laranjas, três maçãs e uma pêra na fruteira. Cadeira de madeira. Um livro. Um esperar. Fumaça do fogão à lenha de outrem. Sombra de nuvem.
Dois suspiros e meio.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
domingo, 21 de setembro de 2008
Que voz é essa?

O rapaz que passava viu as duas mulheres conversando. Não sabia ele o quão velhas elas eram. Também não o sabiam elas. Fazia frio e a noite viria já. O rapaz nunca viu foi a empatia esgueirando-se pelo gramado, escalando o banco e esboçando um sorriso honesto e tímido, de quem há muito não dá as caras. Era um entardecer feliz.
Marcadores:
necessárias mudanças
Aveia
Meus melhores dias no quesito criatividade são os frios chuvosos. Talvez eu faça pipoca também! Espetacular!
Érico Veríssimo

Essa minha idéia de tranqüilidade vem da minha infância ou dos volumes de “O tempo e o vento” de Érico Veríssimo. A família retratada na obra e sua saga pela vida deram-me minha primeira impressão de que a felicidade reside nas tão pequeninas coisas. Veríssimo também me deu um ideal de força, afinal, eu sempre quis ser Ana Terra, uma das protagonistas (senão “a”). Na lista de livros que pretendo colar pelos ônibus da cidade (escondidinha, lá no último banco) consta este título. Sente um aroma de hortelã?
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Teu céu, teu inferno, tua calma

É noite. Centenas de pessoas e suas centenas de almas. Eu só vejo o silêncio que torna tudo branco e brilhante. Olho-te.
E eu sinto que encontrei. És minha certeza. Sabes de todos os meus (tolos) medos e embaraçosas angústias. Tens a noção exata do que traz-me felicidade. Dás-me um par de estrelas todas as noites e refugias-me numa voz que contém toda a verdade do mundo. Ouves meu desespero mudo e minhas idéias utópicas com a mesma fé com que caminhas. Lês nestes olhos todas as frases não ditas e capturas meus pensamentos como se isso fosse-te tão natural quanto o respirar. E o meu respirar já é parte do teu. E a tudo resisto porque me dedicas o que és e o que queres ser. Que a confiança que depositas em mim não seja jamais em vão. Cantarei-te todos os meus versos infantis e minhas ingênuas melodias. Serei tua amante e viverei-te, até o final deste insano carnaval.
E que as voltas do mundo levem, sim, todas as tardes com atroz velocidade. Não serão tardes a menos, mas solidões a menos. E que venham os dias de sol. Que venhas tu e me leves contigo.
Carma
Estou fadada a ter só minha cabeça fotografada nas fotos em grupos com mais de seis integrantes.
Só venha.

Venha aqui e me abrace. Deslize os dedos pelos meus cabelos. Olhe nos meus olhos e faça uma piada boba. Arranque-me um sorriso. Vista-me meu pijama. Conte-me uma história qualquer sobre o futuro. Ajeite as cobertas. Desligue o rádio. Acerte o despertador. Beije-me até que eu durma.
Ah! Como é fácil me fazer feliz!
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
19:12

Uma das minhas avós teve um derrame cerebral durante meu primeiro ano de faculdade. Coisa terrível essa. Ela ficou com algumas seqüelas, motivo pelo qual está numa cama até hoje. Nos primeiros meses depois do ocorrido, ainda fazia fisioterapia e falava normalmente. Hoje, mal conversa com a gente. Não quer sair de casa porque diz que sente-se cansada. Toma sol por uns minutos quase todos os dias. E é esse o contato dela com o que acontece fora do quarto. No mais, passou os últimos anos deitada, olhando para a parede (TV também faz com que se sinta mal) e ouvindo rádio na estação da missa. As visitas levam os bebês pra ela conhecer, falam do passado, do tempo que faz lá fora. Eu nunca sei bem o que dizer. Queria mesmo era pedir que ela levantasse, e agisse como agia: andar quilômetros pra conversar com as pessoas, visitar os doentes, fazer sabão, matar um frango, plantar umas flores estranhas, lavar o cabelo ao entardecer, abrir aquele sorrisão ao ver meu pai. Meu pai. Meu pai ainda faz com que ela esboce um sorriso. É fantástico. Dos sete filhos, ela só sorri pra ele, o caçula.
Minha vó tem daqueles dias quando não sabe bem em que época estamos. Quer sair da cama (pra desepero das minhas tias, já que a musculatura não dá mais conta do peso do corpo) e falar com fulano. Começa a papear no meio da noite e não pára mais. Dá-me uma vontade incontrolável de abraçá-la e fazer as coisas se endireitarem.
Apesar dos que ainda zelam por ela, a maioria não mais se importa. É doloroso saber que, para alguns, minha vó é um peso. Ela que nunca gostou de depender de ninguém, que ia aonde fosse a pé pra não ter que pedir carona.
Vamos todos ficar velhos, se não morrermos antes disso. Quando indagadas sobre a velhice, as pessoas parecem sempre fazer algum tipo de piada e desviar o assunto. Ninguém gosta de pensar que absolutamente todos os fios de cabelo ficarão brancos, que a pele vai enrugar irremediavelmente, que vai ser difícil locomover-se, que virão as dores e, para muitos, o medo da morte. Mas ainda acredito que o que mais incomoda na velhice é saber que o tempo vai chegando ao fim. Sim, muitos pós-setentistas correm por aí e vivem melhor que os jovens. É um excelente clichê esse. Mais clichê que excelente. Mas chegará um momento em que não vai dar mais. E aí? Aí perceberemos que o tempo acabou e fizemos o que dele? O medo da morte é, na maioria das vezes, medo de passar pelo mundo sem ter feito por merecê-lo. Ou é medo que sejamos tratados como muitos velhos de hoje.
Estas duas últimas são as minhas angústias de todas as noites, às 19:12, mais ou menos.
Limpando a esbórnia

Seria uma boa coisa se pra cada, digamos, 2000 pacotes de salgadinhos produzidos numa indústria, os fabricantes mantivessem um gari nas ruas. A cidade seria muito mais limpa. Podia ser uma indústria de refrigerantes também...Ou preservativos...
Marcadores:
necessárias mudanças
E o que sentir?
Terei me tornado menos humana?É possível. Mas sou da opinião de que continuo tão (muito ou pouco) humana quanto era antes. O caso todo é a empatia. Quando minha irmã era pequena, me dedurava pra minha mãe o tempo inteiro e, por isso, eu vivia levando havaianadas. Mas toda vez que ela fazia alguma das dela, eu ajudava a encobrir, a resolver. Hoje não levo mais havaianadas (não freqüentemente), porém, continuo com essa história de ajudar as pessoas mesmo depois que elas me fizeram muito mal...Coisas bem piores que havaianadas...Não, não. A idéia não é dizer que sou boazinha e que perdôo tudo. Eu não sou boazinha nem perdôo tudo. E se assim fosse, tanto faria. A questão é que mesmo chateada com o que as pessoas fazem, sinto-me imensamente mal se puder ajudar e não o fizer. A professora de Psicologia diz que é a culpa gerada pelo amor...É quando você se sente culpado, não pelo medo do castigo, mas por temer fazer mal a alguém que ama. Esse amor eu chamo de empatia. Mas, há pouco, percebi que minha empatia pode ser morta permanentemente e, por mais que me esforce, sinto apenas o vazio. Não é raiva, mágoa ou vingança. É algo muito pior: total indiferença. Não sentir coisa alguma é assustador. Os gritos...terão sido os gritos?
Desde sempre tive problemas com gritos. Os que melhor me conhecem sabem que basta meia dúzia de palavras àsperas sendo proveridas em tom um pouco acima do normal que me desmancho em lágrimas. Mas não são as palavras em si. É a violência no falar. Não choro porque os gritos me causam dor diretamente. Choro porque dói saber que alguém pode ser insensível a ponto de gritar. E quem sou eu para julgar sensibilidade? Das minhas estranhezas, essa com gritos julgo uma das maiores.
A mera tentativa de igualar o tom da resposta machuca grandemente: além de me assustar com meus próprios gritos (eu sei...que coisa ridícula!) assusto-me com o fato de abandonar o que acredito e gritar de volta. Esse abandono de si pode ter conseqüências dramáticas e duradouras.
Não posso dizer que gostaria de acabar com a indiferença...Simplesmente porque a indiferença, como diz a palavra, não possibilita qualquer vontade de mudar. E sem vontade não há revolução. No fim, é esse o pior problema do mundo. Ou, ao menos, o meu.
Desde sempre tive problemas com gritos. Os que melhor me conhecem sabem que basta meia dúzia de palavras àsperas sendo proveridas em tom um pouco acima do normal que me desmancho em lágrimas. Mas não são as palavras em si. É a violência no falar. Não choro porque os gritos me causam dor diretamente. Choro porque dói saber que alguém pode ser insensível a ponto de gritar. E quem sou eu para julgar sensibilidade? Das minhas estranhezas, essa com gritos julgo uma das maiores.
A mera tentativa de igualar o tom da resposta machuca grandemente: além de me assustar com meus próprios gritos (eu sei...que coisa ridícula!) assusto-me com o fato de abandonar o que acredito e gritar de volta. Esse abandono de si pode ter conseqüências dramáticas e duradouras.
Não posso dizer que gostaria de acabar com a indiferença...Simplesmente porque a indiferença, como diz a palavra, não possibilita qualquer vontade de mudar. E sem vontade não há revolução. No fim, é esse o pior problema do mundo. Ou, ao menos, o meu.
Marcadores:
necessárias mudanças
Travessa da Nossa Senhora da Assunção
“Grafitar é arte; atropelar não faz parte.”
Marcadores:
nos muros da cidade
Assinar:
Postagens (Atom)