
E ela nem era minha tia. Ou era: tia-avó. Foi cirrose. Descobriram tarde demais e ela nunca soube. Teve quase três meses de "vida" depois daquilo...E nunca soube...Registro aqui que eu quero saber de tudo. Quero poder me entupir de sorvete, pegar carona por aí, rolar na tinta, doar todos os meus pertences pessoalmente, escrever mil cartas e dar mil telefonemas, tirar fotografias à rodo, dizer que amo mesmo todo mundo que eu amo. Não que eu não faça algumas dessas coisas, mas o gosto de fazer tendo a certeza de que será a última vez é algo que não se pode negar às pessoas. Passa-se a vida usando o maravilhoso clichê de que precisamos viver tudo como se fosse a última vez. E quando alguém realmente pode fazer isso, negam-lhe o direito. Não posso compreender.
Num desses natais, ela disse que o que queria mesmo era ter tido muitos filhos, pra ver a casa cheia. Mas ela nunca se casou nem teve namorado. Passou os últimos dias numa cama na casa onde viveu, bem ao lado da mãe, minha bisavó.
Ventava. Ela vestia uma blusa verde novinha que separara para sair. Tinha uma expressão de paz. Num domingo quente, às quatro horas da tarde, eu assisti um rapaz de uns vinte e quatro anos atirar pás e pás de terra sobre o caixão.
A morte me entorpece.
2 comentários:
como eu gosto do teu blog.
: )
weeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
Como eu gosto de vc!!!!E vc nem vem com granulado!!!heheh!!
weeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
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