sábado, 17 de julho de 2010

Zido


Na Copa de 98, meu pai trouxe para casa um cachorro meio marrom, muito estranho. Ele ainda era um filhotinho e estava coberto de sarna e cheio de vermes. Da primeira vez que tomou banho, pareceu-me que eu estava segurando um sapo com pelos. Eu tinha 13 anos e adorava cães.

Meu pai disse que ele era um último de uma ninhada de 8 filhotes. A mãe, uma pastora alemã, dera cria lá perto da roça e acabara sendo atropelada e morrendo. Sem mãe, os frágeis filhotes morreram logo. Só aquele sobrevivera.

Como tínhamos acabado de adotar um filhote da cachorra da vizinha, o Roliço, tive que implorar para ficarmos com ele também. Ficamos. O Brasil perdeu na final e o cachorro recebeu o nome de Zidane.

Passei noites carregando o Zidane na cozinha, já que ele chorava muito e meu pai não era grande simpatizante de choros no meio da madrugada.

O Zido cresceu e se tornou um cachorro legal. Ele era meio bobo, mas era alegre e agitado. Eu queria ser como o Zidane.

Das peripécias, lembro que comeu uma cueca do meu irmão, roubou maçãs, matou frangos, quase me derrubou uma dúzia de vezes, jogou futebol, escapou e tomou banho no rio,teve a pálpebra rasgada pelo espinho de um ouriço, teve muitos bernes, teve casos, teve raros banhos, teve afagos,teve conversas. Depois ficou velhinho e teve osteoporose. Nunca mais correu daquele jeito ensandecido, com a língua de fora. No dia em que fez 12 anos, meu pai o encontrou morto pela manhã.

Sinto falta dos olhos mais felizes que já vi.

Um comentário:

ligia disse...

meu tobinho faria 10 anos no dia 15.
é... que eles estejam correndo e brincando no céu dos cães!