sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Dor

Se houvesse aqui qualquer decência e responsabilidade, haveria também um ônibus logo pela manhã. Eu não poderia respirar sabendo que causo dor sem fim às pessoas.

Indescritível

Faz frio aqui. Acabo de acordar e descobri que tenho 23 anos. Meu coração bate tão forte que sinto que vai explodir a qualquer segundo. Medo. Creio que fui morta.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Na chuva

Aparentava 33 anos mas podia ser que fosse menos.
Sentou-se ao meu lado e perguntou se poderia conversar comigo. Disse que sim e arrependi-me logo no minuto seguinte. Cheirava à cachaça e pedia dinheiro. Contou que esteve em muitas cidades, mas que sua cidade natal era Marília. Queria voltar para a terrinha, no entanto, os caminhoneiros só davam carona às vagabundas. Os dez reais que trazia no bolso não eram o suficiente para comprar a passagem de ônibus. Enquanto eu concentrava-me neste escrito, disse que minha letra era muito bonita (e todos sabem que não é...). Comentou sobre o tempo ruim e cogitou ir a pé para casa, o que levaria muitos dias. Calou-se ao contemplar uma pomba banhando-se na água acumulada na calçada. Vez ou outra, perguntava para onde mesmo eu estava indo. Disse, com ares de doçura, que quando eu me levantara para pegar uma caneta, ficara de olho nas minhas malas para que ninguém mexesse nelas. “Se fizesse isso em São Paulo, tinha perdido as malas”. Calçava um pé de Havaianas de cada cor e não fazia idéia de como explicaria isso aos pais.
Foi embora uns quinze minutos depois, desejando-me felicidades. E senti falta dele.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Nu de luvas

Porque tem horas que fico cansada de prestar atenção e tentar entender essas coisas todas que preenchem o espaço entre as pessoas e os sonhos...

Presto atenção às coisas como se em algum momento fosse ver surgir, impetuosa e salvadora, a resposta.

Dois reais

Era uma mocinha cuja camiseta trazia a palavra "Diesel". Na testa um "FEA" em tinta verde.No braço direito, um "USP". Nos lábios, um pedido. Do outro lado do vidro, era ela de vestido barato,sacolas de supermercado, uma criança à tiracolo.O que as uniu por um breve segundo foi uma nota de dois reais.Os dois reais que talvez faltassem sempre a uma das partes e, que de tão miúdos, nunca se tenham feito notar pela outra.Os dois reais que jamais fariam o caminho inverso. Os dois reais que simbolizavam a tal da esperança e que ninguém viu.Os dois reais mais dolorosos e significativos que já vi.

E senti vergonha.

Ironias

O teu companheirismo fez-me companheira e a minha liberdade fez-te livre. Não há mais o que se fazer.

Mudando

Foi uma formatura. Não uma qualquer, mas sim uma dessas que deixam impressões tão bem marcadas quanto gotas de tinta vermelha num sulfite bem branco.
Eu vi um balão que trazia em si o mapa mundi e era levado de cá para lá por canudos dançantes e capelos pretos.

Alguém com a barba já branca afirmou que poderia dizer muitas coisas numa data como aquela, mas, como todo grande momento, a melhor forma de traduzi-lo era o silêncio.

Houve Gandhi e a velha sensação de que tudo muda o tempo todo.Mas de que nem sempre foi assim.

Fumar sempre mata. Se não você, as pessoas à sua volta.